Quando me perguntam a procedência de uma cicatriz no pé, tenho orgulho em responder que é uma marca de enxada dos tempos de roça.
Muito embora, hoje se tenha armado um circo contra o tabaco, naquela época era um meio de sobrevivência dos agricultores. A empresa tabageira prestava toda assistência ao plantador, inclusive com o fornecimento de crédito. Coisa que não se vê, hoje, para os pequenos produtores agrícolas. Mas não venho discutir política agrícola, meu objetivo é trazer a minha mensagem da paz que aprendi na convivência com a Natureza.
Morei na estufa, no meio do mato. Fui acordado pela sinfonia ímpar de aves. Tive tardes encerradas pelo ronco dos bugios e do coral de urus. O sol se filtrando entre as frondosas bracatingas e a dança majestosa das taquaras sob a batuta da brisa. Nadei em rio de água fria nas tardes quentes de verão. Pesquei lindos lambaris prateados e nadadeiras vermelhas. Aprendi coisas e ouvi histórias fantásticas dos caboclos acompanhadas do trepidar do fogo, fumando palheiro e bebendo chimarrão de erva-periquita nas noites de inverno. Conhecia muito pouco da maldade humana porque lá não havia.
Caí, literalmente, do cavalo várias vezes e montei "em pelo" no velho picasso. Tenho mais hora de carroça que o Schumaker de volante. Tenho saudade sim, mas não teria força para retornar... Resta-me somente curtir a lembrança viva, mista de alegria e dor, de um tempo que nunca mais vai voltar. Quem sabe se o céu não seja uma grande roça na Brusca?
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